Massoterapia
O toque tem história?
...
2/4/20254 min read
Embora nosso conhecimento científico tenha mudado ao longo dos séculos, a massagem como prática aplicada para alcançar a saúde e o bem-estar não mudou drasticamente. Afinal, o corpo humano não mudou significativamente desde os antigos egípcios. A massagem transcende os meandros da cultura e da história humana. Enquanto as pessoas estiverem propensas a desconforto e doenças, a massagem continuará a existir como uma prática de saúde e bem-estar.
A data de origem mais antiga conhecida na história da massagem terapêutica remonta a 2700 a.C. Nesta data, foi criado um livro de referência sobre as tradições medicinais chinesas intitulado "O Livro Clássico de Medicina Interna do Imperador Amarelo". Embora não tenha sido traduzido e publicado até o século 20, agora é considerado um dos livros básicos de massagem, detalhando as práticas e técnicas usadas na medicina e massagem orientais atuais. Estes incluem acupuntura e acupressão, ambos intimamente relacionados entre si.
Cerca de 200 anos depois, os antigos egípcios desenvolveram a técnica da reflexologia, uma parte vital de algumas das maiores culturas da história antiga, incluindo a Grécia e Roma antigas. A reflexologia baseia-se na ideia de que o corpo tem pontos nos pés que se refletem em todos os órgãos do corpo. Esta forma de massagem aplica pressão a uma determinada parte do pé, que controla um determinado órgão do corpo.
A antiga prática hindu da medicina ayurvédica sustenta que a mente, o corpo e o espírito estão conectados e, quando uma substância não está funcionando adequadamente, afeta negativamente as outras. Essa relação simbiótica explica como a saúde, a doença e a medicina são vistas e praticadas.
Por volta de 1000 a.C., monges budistas japoneses estudavam a técnica Tui Na, que é uma modalidade de massagem na medicina tradicional chinesa, na China. Ao retornar ao Japão, os monges adicionaram suas próprias modificações ao Tui Na, que acabou evoluindo para sua própria modalidade de massagem, conhecida como Anma. Durante a década de 1940 a anma juntamente com técnicas de massagem de outras modalidades foram codificadas por Tokujiro Namikoshi no que hoje conhecemos como Shiatsu.
Os gregos antigos também foram influentes na história da massagem. Como os gregos tinham um forte senso de cultura física, não é surpreendente que a massagem fosse uma prática comum. Técnicas específicas incluíam a diminuição de "nós" em todo o tecido muscular do corpo por meio de fricção terapêutica. Esta prática é muito semelhante às técnicas modernas de Cyriax. A era do século V a.C. foi vital para a história da medicina, a era de Hipócrates. Hipócrates é considerado o fundador da medicina moderna e seu legado continua até hoje. Como pioneiro médico, Hipócrates prescreveu tratamentos para lesões, que incluíam fricção como forma de cura.
Dentro de seus tratamentos e prescrições, Hipócrates promoveu o bem-estar geral, incentivando uma boa alimentação, exercícios, sono amplo e música. De muitas maneiras, seu sistema de cura tinha mais em comum com a medicina holística do que com a medicina convencional.
Com a decadência do Império Romano, no século V, a medicina europeia ficou estagnada, não recebendo novas atualizações. Assim também pelo obscurantismo promovido pela igreja na idade média, práticas de cura ancestrais foram marginalizadas.
No século X, o importante médico e filósofo árabe Abdullah ibn Sina (980-1037), também conhecido como Avicena, descreveu em seus manuscritos manobras e também benefícios da massoterapia. Em seu livro Al-Qanun (O cânone da medicina), Avicena menciona sobre “a dispersão de matérias estéreis ou esgotadas que se acumulam nos tecidos“. Certamente se referindo a metabólitos acumulados depois do trabalho físico.
Com o Renascimento, os estudos de anatomia foram reiniciados, assim também da releitura de obras da antiguidade clássica. Estes adventos possibilitaram uma nova visão da medicina e consequentemente da massoterapia. Então, a partir do século XVI, na França, Ambroise Paré (1510-1590) afirmou utilizar fricções em seus pacientes pós cirúrgicos. Ele atribuiu este conhecimento a obras antigas e seu trabalho ajudou a difundir a massoterapia mundo afora.
Além disso, Francis Fuller the Younger (1670-1706), fisiologista inglês e o médico Joseph-Clémet Tissot (1747-1826) na França, defenderam o uso do trabalho físico de exercícios e manobras de massoterapia.
Estes dois influenciaram Per Henrik Ling (1776-1839) em seus trabalhos sobre ginástica e seus efeitos. A massagem moderna foi amplamente desenvolvida durante o século 19 por Henril Ling, criador do que conhecemos hoje como massagem sueca. O método criado pelo Dr. Henril foi refinado por Johan Georg Mezger, que introduziu várias técnicas baseadas na ginástica sueca, como movimentos de golpe, na modalidade de massagem.
O método de Ling se difundiu rapidamente pelo mundo e é estudado até hoje como massagem clássica. Do mesmo modo, o médico inglês Mathias Roth (1818-1891) escreveu um livro sobre a ginástica médica e os movimentos suecos baseados no trabalho de Ling. Nele descrevia as técnicas, aplicabilidade assim como efeitos. Da mesma forma, Drº George H. Taylor (1821-1896), médico estadunidense, publicou artigos sobre a cura proporcionada pelo método de Ling. Assim também, seu irmão, Charles Fayette Taylor (1827 – 1899), também propagou as ideias dos movimentos suecos e publicou vários artigos.
Elizabeth Kenny (1856 – 1952), uma enfermeira australiana, praticava o uso da massoterapia no tratamento de pacientes com poliomielite. Ela utilizava compressas, alongamentos e manipulações obtendo grandes resultados na diminuição das sequelas. Em seguida, a massoterapia teve maior aceitação pública frente ao surto de poliomielite que ocorreu neste período nos EUA.
Atualmente há uma promoção constante do uso de terapias complementares como auxílio dos tratamentos médicos convencionais. Assim como ocorre também o crescimento do interesse científico em abordar práticas ancestrais, e seus usos, da prevenção à paliação.
Hoje a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece que a saúde não é apenas a ausência de doenças, mas a presença de bem-estar. Com isto, a atuação na saúde passa a ser compreendida como uma ação multidisciplinar e não apenas proporcionada por profissionais de saúde.